Vida e Obra de Bocage
Bocage (1765-1805) foi um importante poeta português do século XVIII, considerado o maior representante do Arcadismo e o precursor do Romantismo. Poeta satírico, erótico e pornográfico, é vítima até hoje de sua própria fama e dos preconceitos que despertou.
A negra fúria Ciúme
Morre a luz, abafa os ares
Horrendo, espesso negrume,
Apenas surge do Averno
A negra fúria Ciúme.
Sobre um sólio cor da noite
Jaz dos Infernos o Nume,
E a seus pés tragando brasas
A negra fúria Ciúme.
Crespas víboras penteia,
Dos olhos dardeja lume,
Respira veneno e peste
A negra fúria Ciúme.
Arrancando à Morte a fouce
De buído, ervado gume,
Vem retalhar corações
A negra fúria Ciúme.
Ao cruel sócio de Amor
Escapar ninguém presume,
Porque a tudo as garras lança
A negra fúria Ciúme.
Todos os males do Inferno
Em si guarda, em si resume
O mais horrível dos monstros,
A negra fúria Ciúme.
Amor inda é mais suave,
Que das rosas o perfume,
Mas envenena-lhe as graças
A negra fúria Ciúme.
Nas asas de Amor voamos
Do prazer ao áureo cume,
Porém de lá nos arroja
A negra fúria Ciúme.
Do férreo cálix da Morte
Prova o funesto azedume
Aquele a quem ferve n’alma
A negra fúria Ciúme.
Do escuro seio dos fados
Saltam males em cardume:
O pior é o que eu sofro,
A negra fúria Ciúme.
Dos imutáveis destinos
Se lê no idoso volume
Quantos estragos tem feito
A negra fúria Ciúme.
Amor inda brilha menos
Do que sutil vagalume,
Por entre as sombras que espalha
A negra fúria Ciúme.
Eu escolhi este poema de Bocage, uma vez que aqui o poeta explora profundamente o sentimento do ciúme, associando-o às forças infernais e tornando o sentimento ainda mais vívido e assustador. Para além disso, esta composição poética também relaciona o amor e o ciúme de uma maneira trágica, mostrando que ambos estão entrelaçados.
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